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Campinas, São Paulo, Brazil
Rio de Janeiro em 1929. Bacharelado e Licenciatura em Matemática(PUC Rio, USP e PUCCAMP,1956).Cursos no exterior:”Advanced Topics”, Universidad Nacional de Chile,1964, “Vibrations and Waves”, Reed College, Oregon,USA,1965. Cursos no Brasil:Curso “Phywe” para professores de Física na AEC(Rio,1958), PSSCC Physics com os autores(1962).Doutorado (Física UNESP,1974) com a tese “Um Projeto Brasileiro para o Ensino de Física”,orientador Prof.J.Goldemberg, grau máximo. Ex-professor da PUCCAMP(1957-69),UNESP(1979—74),USP(visitante,197678),UNICAMP(1972-76), UFRRJ,Rio(1976,aposentado 1993). Autor dos livros: “O céu” e “As linguagens da Física” da Atica,”Com(ns)Ciência da Educação”(Papirus), “A Terra em que vivemos” da Atomo, “O que é Astronomia”da Brasiliense e “(Re)Descobrindo a Astronomia” da Atomo. Docência de cursos sobre os próprios livros em muitos países da América Latina(1974-1988), além de todas regiões do Brasil.

terça-feira, 27 de abril de 2010

A astronomia e as navegações



Por razões óbvias grande parte da humanidade sempre viveu próximo de rios, de lagos ou do mar. Mesmo o homem mais primitivo teve que perseguir ou fugir através da água, levando suas coisas e sua família. Não bastava saber nadar. Era preciso saber levar suas coisas ou sua prole através da água. Podemos dizer com segurança que navegar, neste sentido, é a mais ancestral atividade do homem que exigia algum conhecimento e habilidades especiais. Construir embarcações e utilizá-las é certamente a mais remota das atividades técnicas humanas a exigir conhecimentos e a impor novos desafios. Durante milênios essas habilidades e conhecimentos foram utilizados em pequenas travessias ou em deslocamentos próximos à costa. Quando olhamos para um modelo de globo terrestre podemos nos dar conta de como quase toda a Terra foi povoada por alguém que, navegando, “chegou lá”, apesar dos muitos que não chegaram. Muitas das vezes isso representou alguma forma de navegação.
Enquanto as navegações foram feitas na proximidade do litoral, a orientação foi feita com as referencias próximas e visíveis. O problema da orientação se complica quando já não vemos as referências de terra firme a que estamos habituados em nosso dia-a-dia. E’ nesse ponto que começa a entrar a Astronomia.
Embora a Astronomia utilizando medidas só comece, ao que sabemos hoje, próximo aos tempos do renascimento, a orientação já era conhecida e utilizada por povos da antigüidade. Ao tempo das grandes pirâmides, muitos séculos portanto antes da era cristã, seus construtores já conheciam e usavam a orientação pelo uso dos pontos Cardeais. Orientação era a determinação da direção em que está o nascimento do Sol.
Todos os grandes deslocamentos das pessoas, em terra ou no mar, desde a antigüidade , eram orientados pelos pontos cardeais ou pela estrela Polar. Não é por acaso que o cristianismo começa com uma história de reis (magos) que vieram de “longe” guiados por uma estrela: a estrela Polar (Polaris).A crença popular tomou isso como sendo uma estrela pousada sobre presépio. Na realidade a estrela Polar sempre fora conhecida, desde muito antes do início de nossa era, como a única estrela imóvel do céu e, por isso, adequada e fácil de caracterizar a direção Norte.
Em todos os povos que cultivaram e criaram calendários, tanto no hemisfério Norte quanto no hemisfério Sul, os diferentes pontos em que o sol nasce, nas diferentes épocas do ano, serviu a uma dupla finalidade. Tanto serviam para a orientação como para marcar as diferentes estações e dias do ano. A maioria de nossas escolas continua a “ensinar” que o “ponto em que nasce o sol é o ponto (cardeal)Leste, uma evidente inconsistência. Só há dois dias do ano em que o sol nasce exatamente no ponto Leste. São os dois dias de equinócio: o de outono e o de primavera. Para nós, do hemisfério Sul, o de outono acontece ao redor do dia 21 de março e o segundo ao redor do dia 23 de setembro. Entre os solstícios de verão e de inverno, o ponto em que o sol “sai” no horizonte varia, no mínimo de um ângulo de quarenta e sete graus(mais do que meio ângulo reto). Na nossa latitude (São Paulo), essa diferença ultrapassa os 50 graus e vai se tornando maior à medida que nos afastamos do Equador, aumentando a Latitude, para o Norte ou para o Sul.
As primeiras grandes navegações, feitas por portugueses para Ocidente e pelos navegadores árabes para o Oriente e para o Sul, utilizaram a altura da estrela polar como meio para determinar a latitude em que estavam . Determinar o ângulo de altura da estrela Polar em relação ao horizonte significava determinar a Latitude do lugar. A medida desse ângulo implica que sejam visíveis simultaneamente a estrela Polar e o horizonte. Por essa razão tal medida só pode ser feita durante os crepúsculos, matutino e vespertino.
Vale lembrar que a estrela Polar é a única estrela imóvel do céu pelo simples fato de que ela está na direção bem próxima da direção para onde aponta o eixo de rotação da Terra. A paisagem celeste que se nos apresenta como esfera em cuja superfície interna parecem estar incrustadas as estrelas, gira ao redor desse eixo. O eixo aparente da esfera celeste nada mais é que o eixo de rotação da Terra. Tudo se passa como se estivéssemos no centro da abóbada celeste. Foi essa impressão apenas aparente que deu ao homem a falsa idéia de que estava no centro do Universo e que, por isso, deveria ser a coisa mais importante da criação. Uma impressão parecida àquela que poderia ter um frango girando no espeto. Toda a festa, o Sol, a Lua e todo o céu estrelado dariam a um frango girando no espeto a impressão de que ele é o centro de todos os movimentos do Universo. Ele, o frango também poderia ter a impressão de ser a coisa mais importante da criação, por ser o centro de todos os movimentos do Universo.
Para um observador situado no Polo terrestre a estrela Polar estará exatamente sobre sua cabeça, isto é no Zênite.. Todos os demais corpos celestes estarão dando voltas paralelas ao horizonte. Nenhum deles tem ocaso ou nascimento. Na medida em que o navegador for saindo do Polo Norte, a estrela Polar vai saindo do Zênite e se inclinando na direção do Equador. Os demais corpos celestes começam a ter sua trajetória diurna aparente inclinada em relação ao horizonte. Se o navegador for se deslocando sempre na direção Sul, a direção da estrela Polar vai se inclinado na direção do horizonte.. Esse ângulo entre a direção da estrela Polar e o horizonte é que mede a Latitude do lugar. Nosso navegador saberá que está chegando no Equador terrestre quando a estrela Polar estiver chegando ao horizonte: altura zero da estrela Polar, latitude zero. Quando o navegador ultrapassar o Equador terrestre, a estrela Polar terá desaparecido para baixo do horizonte Norte, Na direção do Sul vai “aparecendo” outro polo celeste: o Polo Celeste Sul. .Este entretanto não tem uma estrela que o torne visível, como o Polo Celeste Norte com a estrela Polar. Neste caso, a altura do polo, ou seja, a latitude terá que ser medida através de estrelas cuja distância angular ao Polo seja conhecida.
Cristóvão Colombo fez seu projeto de viagem, para chegar às Índias pensando em manter-se sempre no hemisfério Norte. Viajar sempre para leste, mantendo a mesma latitude significava manter seu rumo perpendicular à direção em que ficava a estrela Polar e constantemente medir sua altura do horizonte. Colombo podia e sabia medir sua latitude. O que ele não sabia nem podia era medir sua longitude. Por essa razão ele imaginou já estar chegando às Índias. Por isso a gente nativa e morena do Novo Mundo foi chamada de índia. Nossos povos nativos serem chamados de índios é puramente conseqüência de um erro de avaliação da longitude.
A medida da longitude se tornaria um dos maiores problemas das grandes potências marítimas no tempo que medeia os grandes descobrimentos(1492) e meados do século XVIII
A medida da longitude só se tornaria possível a partir da criação e desenvolvimento do relógio mecânico de precisão. O relógio mecânico foi desenvolvido por isso e para isso, com o estímulo de um prêmio que eqüivaleria hoje a 12 milhões de dólares, em 1714, criado pelo parlamento inglês. Essa grande conquista se deveu a John Harrison, depois de quarenta anos de um trabalho árduo e constante, completado por seu filho.
Com a medida da altura do Polo Celeste, feita com o sextante, media-se a latitude. Com o relógio mecânico de precisão, aferido pela passagem meridiana das estrelas, a partir de 1760, podia-se determinar também as longitudes. E’ a partir da Segunda metade do século XVIII que as grandes navegações começam a colocar os pontos mais remotos da Terra em suas verdadeiras posições relativas. Só a partir daí os pontos e sua localização ficavam determinados por suas latitudes e longitudes.

3 comentários:

  1. Parabéns pelo texto. Quantas horas de estudo despendi para obter os conhecimentos que obtem-se com sua leitura!

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  2. Desculpem-me,leia-se,por favor:Parabéns pelo texto.Quantas horas de estudo despendi para obter os conhecimentos que sua leitura proporciona.

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  3. Muito bom mesmo o texto. Se for possivel gostaria de alguma informaçao sobre o papel dos arabes, com seu profundo conhecime to de matematica principalmente, na viabilizaçao das grandes navegaçoes.

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